Hoje, eu reassisti o filme “Adoráveis Mulheres” (2019). Eu digo reassistir porque já assisti uma vez há pelo menos 2 anos, e não lembrava do quão impactante e emocionante a história era.
Basicamente, o filme é baseado no livro “Mulherzinhas”, de Louisa May Alcott.
A história acompanha a vida das irmãs March – Meg, Jo, Beth e Amy – enquanto crescem em Massachusetts durante a Guerra Civil Americana.
Meg, a irmã mais velha, sonha com uma vida de conforto; Jo é uma escritora ambiciosa e independente; Beth é a mais tímida e bondosa; e Amy, a mais jovem, é vaidosa e busca a realização artística.
O que mais chama atenção no filme é a intercalação entre passado e presente, e como a história vai se construindo e sendo contada desde o momento em que as irmãs conhecem Laurie, até quando uma delas decide se casar com ele.
O que nos traz ao assunto principal deste texto: a relação de Jo e a relação de Amy com o nosso querido personagem Laurie.
Laurie (Theodore Laurence) conhece Jo March no início da história. Eles se encontram quando Laurie, um jovem rico e neto do Sr. Laurence, se muda para a casa ao lado da família March. Laurie vai até a casa das meninas para se apresentar e logo se torna amigo delas, especialmente de Jo.
O encontro acontece de maneira um tanto engraçada: Jo, sendo aventureira e extrovertida, inicialmente não se impressiona muito com ele, mas logo os dois criam uma amizade forte. A relação deles evolui ao longo da trama, com Laurie se apaixonando por Jo, embora ela o veja mais como um amigo.
Quando Laurie decide confessar seus sentimentos a Jo, ele diz que sempre a amou desde que a conheceu. No entanto, para Jo as coisas eram bem diferentes, já que ela não tinha interesses românticos em Laurie e o via apenas como um amigo. O diálogo é doloroso de se assistir, especialmente porque, quando Jo começa a citar seus defeitos e motivos pelos quais eles nunca dariam certo como casal, Laurie fica repetindo a mesma frase “Eu te amo, Jo, eu te amo” várias e várias vezes.
Por fim, Jo conclui dizendo que talvez ela nunca queira se casar, e que Laurie irá encontrar uma mulher incrível que o amasse tanto quanto ele a ama. Laurie fica devastado e triste.
Enquanto isso, Amy March sempre admirou Laurie. Ela vai para a Europa com a tia March, e nesta viagem encontra Laurie, que havia sido rejeitado por Jo. Lá, eles se apaixonam e começam a desenvolver uma relação. Amy estava predestinada a outro homem, mas o rejeita quando Laurie a pede para que o faça. E então, Laurie pede Amy em casamento e os dois se casam.
A irmã Beth adoece e, depois de um tempo, acaba falecendo. Isso deixa a família muito abalada, especialmente Jo, que tinha uma ligação tão profunda com a irmã.
Durante este tempo, a mãe das meninas pergunta a Jo se ela aceitaria ficar com Laurie naquele momento, depois de já o ter rejeitado anos antes. Ela diz que sim. A mãe então pergunta se Jo o ama, e então temos um dos diálogos mais bonitos de toda a história:
— Você o ama? — perguntou Marmee, olhando-a com ternura.
Jo, visivelmente angustiada, olhando para o chão, como se estivesse perdida em pensamentos, responde:
— Se ele me perguntasse de novo, acho que eu diria que sim. Acha que ele vai me perguntar de novo?
— Mas você o ama? — pergunta Marmee outra vez, calma, tentando fazê-la refletir.
Jo faz uma pausa, confusa, frustrada, e responde com a voz trêmula:
— Importa-me mais ser amada. Quero ser amada. — diz Jo. Sua voz começa a falhar, os olhos se enchem de lágrimas, e ela desabafa.
— Isso não é o mesmo que amar.
Jo fica emocionada, tentando conter as lágrimas, mas incapaz de segurar a dor que sente:
— Apenas sinto… Sinto que... — faz uma pausa, respirando fundo, enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto — As mulheres têm mentes e almas, e não apenas corações. E têm ambição e talento, não apenas beleza. — a voz dela se eleva, carregada de indignação. — E estou farta das pessoas dizerem que a mulher só serve para o amor. Estou tão farta disso!
Desaba, sua voz se torna mais baixa, quase sussurrando:
— Mas eu estou tão solitária! — termina a frase com um soluço, enquanto Marmee a observa, solidária e silenciosa.
Jo escreve uma carta para Laurie, dizendo que se arrepende de o ter rejeitado e se mudado para Nova York. Ela coloca a carta na caixa de correio, mas Laurie nunca chega a lê-la.
Quando Amy e Laurie voltam para o funeral de Beth, Laurie decide contar a Jo que eles estão casados, que agora são marido e mulher. Jo não reage bem, fica triste, vai até a caixa de correio, rasga a tal carta que o escreveu e a joga no lago.
Certo, agora chegamos ao ponto principal: a necessidade das mulheres de serem amadas. Embora Jo seja uma personagem forte, determinada e ambiciosa, ela também é humana — e, como tal, sente o peso da solidão. Durante a maior parte da história, Jo rejeita a ideia convencional de casamento, pois teme perder sua identidade e seus sonhos de se tornar escritora. No entanto, ao longo do tempo, especialmente ao ver suas irmãs formarem famílias e encontrarem estabilidade emocional, Jo se depara com a realidade de que deseja algo semelhante: ser amada e compreendida.
O monólogo em que Jo diz “Quero ser amada” revela que, apesar de sua aparente resistência ao amor romântico, ela não é imune ao anseio por conexão e afeto. Ela não quer se casar por obrigação ou por convenção, mas sente falta de alguém que a valorize e a aceite por quem ela é. Esse desejo, porém, entra em conflito com sua recusa em se submeter ao papel tradicional da mulher como esposa e mãe.
No fundo, a necessidade de Jo de ser amada não se resume a romance; ela quer ser reconhecida e acolhida em todas as suas facetas — como mulher, escritora, amiga e irmã. Sua solidão simboliza a luta interna de muitas mulheres da época (e até hoje) que, ao buscar independência e realização pessoal, enfrentam a difícil questão: é possível ser plenamente independente e, ao mesmo tempo, ter um amor que não anule quem você é?
Se você nunca assistiu o filme, ele está disponível na Amazon Prime ou então, se você quiser uma versão mais acessível e legendada, aqui está o drive:
Drive Adoráveis Mulheres
Espero que tenham gostado, essa foi minha primeira publicação aqui e eu espero continuar, porque escrever é uma paixão pra mim. Obrigada pela leitura :)
acho que as pessoas acabam focando muito no "romance" quando assistem little women e esquecem que a história é sobre as irmãs. quando a jo diz que está solitária ela diz isso no contexto de estar de volta a casa que ela cresceu e passou toda a infancia e se sentir sozinha naquele lugar porque as irmãs e o laurie não estavam mais ali, principalmente depois de perder a beth que era o "coração" da casa, e aquele lugar que antes trazia tanta conforto pra ela começou a ser um lugar triste e melancolico. acho que o fato dessa cena ser gravada no porão da casa delas fazendo um paralelo com outras cenas quando estavam todas as irmãs e o laurie reunidos ali naquele mesmo lugar mostra muito isso.
Amo esse filme! Sou encantada pela forma que ele aborda as relações familiares e o amadurecimento das irmãs. Uma pena que a autora do livro original tenha sido pressionada para casar a Jo. Eu gostaria de saber como as coisas se sucederiam se não houvesse essa demanda. Talvez fosse mais fácil para algumas pessoas entenderem que ela é muito mais do que o que construiu com o Laurie — uma mulher forte, talentosa e com muito amor no coração, independente ou não de um casamento.